(Carlos Drummond de Andrade) Homenagem Clube de Leitura dos Poetas https;//www.facebook.com/clubedeleituardospoetas

A água cai na caixa 
com uma força,
com uma dor!
A casa não dorme, 
estupefata.
Os móveis continuam prisioneiros
de sua matéria pobre, 
mas a água parte-se.

A água protesta. 
Ela molha toda a noite
com sua queixa feroz, 
seu alarido.
E sobre nossos corpos 
se avoluma
o lago negro 
de não sei que infusão.

Mas, não é o medo da morte
do afogado,
o horror da água batendo 
nos espelhos,
indo até os cofres, 
os livros, as gargantas.
É o sentimento 
de uma coisa selvagem,

Sinistra, irreparável, 
lamentosa.
Oh, vamos nos precipitar 
no rio espesso,
que derrubou
a última parede
entre os sapatos, 
as cruzes e os peixes 
cegos do tempo.
(Carlos Drummond de Andrade)
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