Memória por Adriana Janaína Poeta/ 13 de março de 2014


É que seu gênio, 
retraído e seco, 
dava-se maravilhosamente
com esses amigos 
submissos e generosos,
os livros,
esses faladores discretos 
que podemos interromper à vontade,
e com os quais nos é permitido 
conversar dias inteiros,
sem termos aliás obrigação 
de dar uma palavra...
(Aluísio Azevedo)

     Leio a notícia de que a Casa onde morou o escritor, poeta e dono de outros tantos talentos, Aluísio Azevedo, corre o risco de tornar-se um estacionamento. A casa, precisa de reparos, fica no Maranhão, berço do escritor. Fico sabendo da noticia através de um casal de amigos, Maria e Gustavo. Vou em busca de mais informações. A denúncia foi feita na terça-feira, dia 11 de março de 2014, pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM).
     Na casa, localizada na Rua do Sol, Centro, São Luís - Maranhão, residiu um ilustre brasileiro, que dedicou toda a sua vida para a literatura e as artes. Diplomata, caricaturista, jornalista, desenhista, pintor, foi inclusive o primeiro escritor brasileiro a viver exclusivamente de seu ofício. Autor de romances, contos, peças teatrais, (irmão do dramaturgo e jornalista Artur Azevedo, outro brasileiro ilustre), Aluísio de Azevedo impressionou a sociedade com as suas idéias liberais. Seus temas preferidos são a luta contra o preconceito e a crítica indistinta a alguns costumes presentes em todas as classes sociais. Foi escolhido para ocupar uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras, em 1897.
     Seu primeiro romance foi "Uma Lágrima de Mulher", sendo autor de "O Cortiço"(nesta obra, Aluísio aborda de forma clara o preconceito e a exploração do homem pelo homem), "O mulato", entre outras obras de grande importância para a literatura brasileira. Ajudou a lançar um periódico, "O Pensador". Sempre muito ativo intelectualmente, Aluísio iniciou a carreira diplomática em 1896, época em que diminuiu a sua atividade literária para se dedicar a sua nova função, no Exterior.
Morreu aos 55 anos, em Buenos Aires, Argentina, ao lado da sua companheira, Pastora Luquez, com quem viveu seus últimos dez anos.
     Para esta casa, onde viveu Aluísio Azevedo, que ajudou, como tantos outros escritores, poetas, cronistas, jornalistas e artistas a escrever a história deste pais, eu acredito que outro destino deveria ser dado. Nosso Brasil , tão rico de talentos e grandes pensadores, precisa ter orgulho da sua história, dos seus poetas e escritores, de todos os profissionais que ajudaram a construir a Nação.
     A memória é um elemento extremamente importante de identidade e contribui para a formação da cidadania, ela nos distingue e nos aproxima.
     Não se trata apenas de uma estrutura de cimento e tijolos, mas de significativa lembrança de alguém que destacou-se pela grande sua contribuição literária.
Sempre penso que precisamos despertar em cada brasileiro o amor pela Memória Nacional, esta herança que nos torna únicos porque transfere uma gama de enredos e conhecimento de uma geração para outra, que permite não a repetição, mas a transformação através do passado. Percebo também que cada um de nós é responsável por manter esta memória viva, coisa que já é feita com mais frequência fora do país. Valorizar as suas riquezas, todas elas, manter viva a sua memória, faz toda a diferença quando desejamos crescer e evoluir.
     Por que não dedicar cada ano que se inicia para divulgar um autor que teve representatividade cultural no Brasil? Isso despertaria o interesse geral, incentivaria de forma decisiva o surgimento de novos autores e pensadores.
     A literatura não é algo monótono e extático, como sabe quem encontra num bom livro este algo mais que nos conduz a grandes jornadas. Quanto mais divulgada, mais incentivada, mais lembrada, maior será o impacto que causará na vida das pessoas. Eu devo tudo o que sei e sou ao fato de ler avidamente desde a minha infância.
     O maior investimento que fazemos é em conhecimento, e memória nada mais é do que isso, porque cada um de nós é capaz de ir até determinado ponto, juntos sempre seremos mais completos, porque somos como pequenas peças de um imenso quebra-cabeças. O que fica impresso nos livros, não são meras palavras, mas as idéias e os sentimentos, todas as aspirações e descobertas de quem o escreveu. Muitos entenderão ao que me refiro.
(Memória por Adriana Janaína Poeta/ 13 de março de 2014)

Clube de Leitura dos Poetas





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