Pai herói por Marcelo Bernardo


Pai herói
Por Marcelo Bernardo

Eu tinha 23 anos
quando fui pai pela primeira vez.
Nunca senti tamanha alegria
e responsabilidade.
Lembro de cada passeio,
dos cuidados,
das brincadeiras,
e quando teve catapora
eu dava banho com permanganato,
com todo cuidado.
Quando teve pneumonia,
eu dava a medicação,
cheio de preocupação.
Quando eu a levava para passear
de bicicleta pelo bairro,
ela entrava por dentro da minha camisa,
encostava a cabecinha nas minhas costas,
agarrada a mim,
e dormia.
Tinha apenas dois anos,
minha menina.
Em Búzios, certa vez,
nos trancamos no carro
para fugir dos mosquitos,
e tudo para ela era engraçado e bom.
Estudávamos juntos,
e enquanto crescia
eu procurava ouvir
em vez de criticar
as suas escolhas.
Sempre quis ser seu amigo
e enxergar o ser humano
que existe dentro da vida
que eu vi surgir.
Um pai é sempre herói,
mas continua sendo humano.
Um filho é sempre único,
mas também é de carne e osso,
também tem sua personalidade
e caminho.
Meu pai, para mim,
sempre foi meu espelho.
Sempre correto, estudioso,
trabalhador, justo.
Nem sempre pode estar presente,
mas eu sempre soube que me amava.
Nenhum pai,
nenhum filho,
nenhum ser humano
pode ser perfeito,
caber na forma que criamos.
Mas, nosso sentimento
e o que fazemos com ele,
determina quem somos.
Eu sempre fui presente
e como fotógrafo,
registrei estes momentos.
Quando a caçula nasceu,
eu tinha 37 anos.
Já não era tão jovem
e pude acompanhar cada momento.
Vi nascer,
dentro da sala de parto,
o meu foguetinho,
que sem chorar
e com os olhos azuis bem abertos,
viu este pai chorando
de emoção e alegria.
Ela sorriu ao ouvir e reconhecer
a minha voz.
Com quatro anos teve uma forte virose,
havia um surto de meningite em Niterói.
Eu fiquei ao seu lado,
em casa, todas as noites e dias,
dando Pedialite de meia em meia hora
durante quatro dias.
Na véspera do Natal
ela acordou curada
e foi imediatamente me procurar
para brincar,
sorrindo, como sempre fazia.
Ela adorava ir a praia,
cavar na areia
e beber água de coco,
passear comigo na pracinha,
andar no seu pedalinho rosa,
fazer bolhas de sabão,
ficar jogando e desenhando no computador
ao meu lado,
editando fotos já com três anos.
Ouvir histórias que eu contava
ou as músicas que eu cantava para ela,
antes dela adormecer.
Filho é parte da gente,
mora na alma,
não importa o que façam,
digam ou achem.
Não importa se o mundo
ou a vida separe.
Pai nunca é menos
nem mais,
é alicerce e raiz,
galho forte e proteção.
Quando um filho confia
e relata uma dor,
esta dor passa a cortar a carne
do velho pai.
Quando arrancam dos braços
quem neles buscou refúgio
e proteção,
esta dor dupla é sem reparação.
Muito se fala em amor,
amor é doação,
amor é confiança
e também confissão.
Criança nasce com asas,
o mundo vai atrofiando,
até que não possa mais usá-las.
Cada pedido de socorro
não ouvido,
cada dor no seu peito
atingido,
cada injustiça vivida,
vai matando a criança
que acredita
que no mundo existe sim
verdade e justiça,
mão amiga.
Quando a criança grita
por socorro,
relata fatos tão detalhados,
detalhes estes depois confirmados,
tem que ser levada a sério,
tem que ser ouvida.
O tempo perdido,
este não temos de volta.
Não é o gênero
o X da questão,
é quem poder acolher
e dar proteção.
Criança tem sim
sentimento e sabe perceber
quando algo ou alguém a agride,
faz mal.
Este velho pai que move mundo
e luta para que ela tenha voz,
pai que sente no peito
a dor que ela relatou,
o que passou,
encontra força onde não existia
para continuar firme
e vai prosseguir.
Tudo documentado, filmado
e relatado,
para que ela saiba
que este velho pai
fez e faz tudo o que pode
para que ela tenha voz,
para que a sua dor
e todo o tempo que perdeu,
não seja em vão,
para que a inocência
não passe calada
e em branco,
trancada no coração
de uma criança
que até ontem
acreditava em fadas.

Obs. Estamos documentando, em vídeo e livro, toda a minha luta e vida. Este poema eu fiz para o Dia dos Pais, faz parte do livro que escrevo. 

Leia. Apaixone-se.
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