O anjo que navega por Adriana Janaína Poeta

Eu reconheço o verdadeiro poeta,
a gema bruta e iridescente.
Eu reconheço a Poesia,
rio estreito e profundo,
quando diviso este barco,
levado sempre pelo vento,
essa Nau batizada: “Dolores”.
Esta guitarra que rasga
tão fundo...

Porque sendo poeta,
trago comigo,
velas sempre erguidas,
beijadas pelas tempestades.
Agarrada as tormentas,
conhecedora dos perigos.

E sempre solitários,
navegamos nós,
tendo este convés como chão.
Retidos e enlaçados por ela,
embalados e acordados,
neste barco sempre em curso.

E  Dolores, anjo antigo,
sopra ao nosso ouvido,
segura as nossas mãos,
transforma tristeza e saudade,
angústia, em enredos,
e versos.

Assim nos escolhe o anjo,
pela grande, profunda
e dolorida  marca,
esta flor de lis
que  traz atado a si o poeta.

Conhecedora dos abismos
e de todas as profundezas,
nos escolhe, nos acompanha,
nos inspira,
Até que transformamos tudo em estrofes.
Talhando em palavras
os diamantes que sentimos,
fincados, e tantas vezes,
nos arranhando por dentro,
queimando tão fundo...

Porque, para ser poeta,
há que ser capaz de provar o infinito.
Ser capaz de ir fundo,
saboreando cada nuance do vinho,
vastos sentimentos.
E mergulhar sem medo,
e por impulso,
perceber a estranheza
que é este Mundo.

Por isso o ar, às vezes,
nos falta,
e nos cansamos tão fácil
da superficialidade que a muitos encanta.
Por isso, somos os malditos,
os esquisitos, os alienígenas.

Mas, existe o barco,
o velho barco,
com suas velas sempre ao vento.
Existe o anjo que compreende
as tormentas abissais
que nascem através de nós,
e as vezes, nos envolve.

E saber que o nosso porto
é este barco,
e saber que temos o anjo
do nosso lado,
e saber que a Poesia
é esta taça que sempre iremos verter,
derramar...

É o que nos torna sãos,
e permite que o ar retorne
aos nossos pulmões,
sempre renovados.
Andamos no mundo,
distantes, embora ao lado,
e não nos sentimos parte,
mas, cá estamos.

Nosso chão é aquele barco,
palavras ao vento,
vagas de versos,
navegantes do tempo.
(O anjo que navega por Adriana Janaína Poeta)






Comentários