A sede dos vampiros por Adriana Janaína Poeta

    Eu sou casada com Marcelo há 8 anos. Não nos unimos irrefletidamente, somos uma família e temos uma vida pela frente, juntos.  Sou escritora, poeta, editora. Sou bem racional, apesar de poeta. Conheço bem a natureza humana, que existem pessoas boas, decentes, honestas, justas, mas também existe quem é o oposto de tudo isso.
    Ser boa pessoa não é sinal de fraqueza, pelo contrário, no mundo (que sempre foi o que é, basta estudar a história), persistir com honradez no caminho da retidão, requer muita força de vontade, firmeza e coragem. O caminho avesso convida sempre de forma baixa. Corteja, sorrateiramente, depois tenta nos comprar, seja com agrados, elogios, ou em espécie. Pôr um preço na nossa alma. O que temos de realmente nosso e precioso, único e insubstituível. O que, evidentemente, ao contrário do que dizem, não tem preço. Depois, ameaçam, perseguem, plantam entraves. Cercam quem você ama, e usam como refém. E tentam pará-lo. Calar o correto e heroico brado, sempre que isso contrariar os vis interesses dos chefes do bando. Sim, o dragão tem mais de uma cabeça, na maioria das vezes, todas as cabeças com as patinhas sujas, metidas não apenas no bolso do pequeno, mas nas fartas e grandes bolsas do público. Quem rouba de um, rouba de muitos.
    E, nós, tanto eu quanto Marcelo, que vivemos apenas para família, (não a de criminosos, mas a unida por laços sagrados de amor e dedicação), para as artes, para nossos trabalhos, comungando dos mesmos valores pessoais, simples, humanos, sempre preferindo um cotidiano bem caseiro e comum, temos em nossas vidas pacatas  que saber da existência de seres desprezíveis, baixos, rasteiros. Gente que jamais precisaríamos ou desejaríamos saber o nome, introduzidas no nosso caminho por gente que já o prejudicava, atrapalhava, roubava, tolhia, não apenas profissionalmente, mas pessoalmente, muito antes que eu o conhecesse. Um por uma doentia inveja, que carrega desde a infância, aliada a cobiça e ganância desmedida e insaciável, outros, apenas por cobiça, a mesma desmedida e insaciável. E gente que se reuniu para obter vantagens e valores indevidos, não apenas de quem acreditavam que esmagariam e calariam como um inseto indefeso e frágil, covardemente, mas também para manter os braços e ramificações operando na sangria de uma Nação.
    Não importa, para a Quadrilha reunida de vampiros, que uma criança inocente, de sete anos, tendo na alma apenas sonhos e esperanças doces, toda a confiança no ser humano e na Justiça, um amor grande e infinito pelo pai, que também a ama mais que tudo, teve a sua pessoalidade sagrada invadida, agredida, ameaçada. No mundo onde os vampiros se reúnem, a coragem de uma criança que denuncia, com detalhes, e grita, entre soluços, por ajuda, não importa. Não para a Quadrilha de vampiros. Importa para o pai, o que julgavam que esmagariam, já que estão reunidos e tão bem “representados e protegidos”. Importa para mim, que testemunhei tudo, importa para os não vampiros, os cidadãos teimosos que não sangram o alheio nem tocam no erário público, porque sonham e trabalham para o bem da família e do País. Esses mesmos cidadãos que seguram ainda esta Nação e o Mundo, para que não se transforme no grande banquete eterno dos corruptos, ops, dos vampiros.
    Desde que nos vimos diante da questão, e iniciamos uma Campanha, que será permanente, voluntária, contra os abusos e violências que atingem a Criança, ouvimos, recebemos e lemos sobre as barbaridades a que inocentes frágeis são submetidas ainda hoje, no Brasil.
    E o pai, que tentaram calar com as ameaças, entraves e armadilhas, expôs sua vida e continua lutando, para que uma inocente tenha voz e não seja esquecida, não vire mais uma estatística. Porque, não se enganem, muitos Pais passam hoje por problemas parecidos, mas poucos Pais tiveram os algozes dos seus anjos ajudados e protegidos, alguns regiamente pagos,  por familiares muito próximos, apenas porque enxergaram na desgraça de uma criança, no seu pedido de ajuda e socorro, uma oportunidade suja de perpetuar roubos e impunidades.
    O meu conselho para os Pais que nos procuram, contando seus dramas e pedindo orientação, é que não desistam de lutar pelos seus filhos. Que façam isso legalmente, que reúnam provas e denunciem, que tornem tudo público. Que criem Associações e troquem informações, para que os Pais vítimas tenham a chance de proteger seus direitos e os direitos dos seus filhos. Cada criança, é um cidadão. Não importa se é filho de A ou B, do João ou Pedro da esquina ou do Paulo de Brasília. Todos são cidadãos, e todos têm que ter os mesmos direitos garantidos e protegidos, não apenas pelos pais e famílias, mas pelo Estado.
    Então, a luta de um Pai, a defesa de uma Criança, se transforma e beneficia não apenas duas pessoas, mas uma Nação. E sendo pequenos e comuns, nos tornamos grandes e fortes.
    Que isso possa inspirar e salvar este mundo, para que os vampiros experimentem a sede, já que a sua fome é infinita.
  
         


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